segunda-feira, 27 de junho de 2011

Desordem nada

Quando
Às vezes
Nem sempre
Quase nunca
Faço
Quero
Tenho
Posso
Algo
Mais
Tudo
Mais
Assim
            Pra mim
                        Enfim
                                    Querer
Em vão
                Ou não
                        Na mão
                                    Então

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Já é (Lulu Santos)

Sei lá...
Tem dias que a gente olha pra si
E se pergunta se é mesmo isso aí
Que a gente achou que ia ser
Quando a gente crescer
E nossa história de repente ficou
Alguma coisa que alguém inventou
A gente não se reconhece ali
No oposto de um déjà vu

Sei lá...
Tem tanta coisa que a gente não diz
E se pergunta se anda feliz
Com o rumo que a vida tomou
No trabalho e no amor
Se a gente é dono do próprio nariz
Ou o espelho é que se transformou
A gente não se reconhece ali
No oposto de um vis a vis

Por isso eu quero mais
Não dá pra ser depois
Do que ficou pra trás
Na hora que já é!


segunda-feira, 20 de junho de 2011

A saga de Clemente - Cap. II

Capítulo II - Constância

Assustada Constância acorda com o barulho de seu despertador em seu celular, aciona a função soneca e vira-se para abraçar seu companheiro quando percebe, mais assustada ainda que está sozinha na cama. Chama-o sem nenhum tipo de resposta aparente e por mais preocupada e curiosa que esteja seu sono é mais forte fazendo-a apagar e acordar novamente assustada com o barulho de seu celular.
Procura a função soneca ainda sonolenta quando se dá conta que este barulho não é de seu despertador e sim de seu celular tocando por uma chamada de um número que não possuía em sua agenda, pelo menos até o momento.
Quando consegue unir forças e neurônios para atender a ligação, torna-se tarde demais. Fica com ele em mãos esperando uma nova chamada ou o aviso de um recado em sua caixa postal quando é surpreendida pela campainha.
Levanta da cama seminua, olha no espelho as cicatrizes do passado que tanto se orgulha, veste um roupão azul claro e corre para a porta tropeçando em travesseiros, restos de roupas e nem percebe o envelope lacrado deixado no criado mudo ao seu lado.
 Ao chegar à porta, nada vê através do olho mágico, pergunta e não ouve resposta, vai até a cozinha atrás das chaves que deveriam ficar penduradas no chamativo peixe espada de madeira trazido de sua penúltima viagem e nada encontra, nem o peixe espada. Ouve novamente o barulho de seu celular e sai correndo para atender, gritando para quem quer que esteja na porta esperar e quando chega ao quarto percebe que agora sim é seu despertador tocando novamente. Desliga a função soneca, coloca-o no bolso do roupão e inicia uma captura às chaves de seu flat.
A campainha toca novamente juntamente com batidas em sua porta, deixando Constância tensa e com dor de barriga.
Ela não sabe o que fazer, não sabe onde está seu companheiro, quem está em sua porta, onde estão suas chaves e quem ligou em seu celular e até o momento não percebeu o envelope lacrado no criado mudo ao lado da cama king size.
Constância senta no chão ao lado da cama king size quando percebe assustada que este quarto não é o seu, esta não é a sua cama, corre para a cozinha olha para a parede onde deveria estar o peixe espada e cai em si que não está em seu flat, nem mesmo aquele roupão azul claro é seu.
Pega o celular e disca para o número recebido.

Até breve!

Após cumprir todas as provações com imenso louvor, Dona Marina parte para a verdadeira vida. Apesar de todos já estarem preparados para o final, quando realmente o fim chega é que percebemos o quanto amamos uma pessoa ou o quanto esta pessoa vai nos fazer falta.
Segurei o choro até onde pude, mas despenquei quando vi minha mãe chegando ao velório. Entre tantas coisas que Dona Marina ensinou a tudo e a todos, pelo exemplo e vivência, pude perceber somente naquele momento que a maior delas era ter me ensinado a amar minha mãe. Quanto que eu iria sofrer se fosse minha mãe lá deitada, pensando em tudo que poderia ter feito ou dito e não tive coragem de fazer ou dizer.
O choro era de completa emoção e devoção ao corpo ali exposto que descansava em paz, despido das dores e sofrimento causados pela doença que a acompanhou em terra durante vários anos e que por vezes fingia não estar presente para dar fôlego ao nobre caminho a ser percorrido.
Eu chorava, olhava para aquela face serena e lembrava quando ela dizia “que era inteligente, mas só não teve oportunidade”, ou então, quando falava “que tudo que ela fazia ficava gostoso”, após receber um elogio meu pelos pratos deliciosos que cozinhava com imenso prazer, delicadeza e cuidado.
Dona Marina fez escola na terra, sua vida foi pura oportunidade de crescimento espiritual. Sua resignação perante aos percalços causados pelo câncer serviu de exemplo para muitas pessoas que passavam pelo mesmo problema, sua fé rompeu barreiras, deu-lhe sobrevida, serviu de preparação para toda família.
Crendo na doutrina espírita não duvido que ela também tenha servido de exemplo para outros desencarnados que sofreram pelo mesmo mal, mas, no entanto não tiveram a mesma fé, perseverança e resignação.
É muito complicado explicar o que é a morte para uma criança de 5 anos, ainda mais porque minha filha era extremamente ligada à avó. Dissemos que a avó estava doente (isso não era novidade, minha filha chegou a conviver com a avó nas fases difíceis da doença onde era necessário trocar fraldas e dar banho) e que agora ela tinha virado uma estrela e para minha filha a estrela mais bonita que existe no céu.
E assim Dona Marina foi, deixando-nos o exemplo de força e superação.
Devolvemos a Deus a jóia que Ele nos emprestou.
Até breve Dona Marina!

É interessante ressaltar que muitos conheceram seu verdadeiro nome em sua despedida. Augusta Maria Luca Dominguez o nome que ela mesma só descobriu depois de aprender a ler, pois todos a chamavam de Marina, nome que deveria ser seu se não fosse um erro no registro.

(Palavras de minha filha que pediu para escrever)
A vovó Nina virou uma linda estrelinha no céu e eu e a mamãe choramos em casa.
Todo dia quando olho para o céu fico com saudade da vovó Nina, mas meu pai disse que “Saudade Sim, Tristeza Não”.
Ela pediu para eu escrever que ela prestou bastante atenção no banho quando conversamos sobre este assunto e eu desenhei uma estrela bonita na janela do banheiro.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Por quem os sinos dobram (Raul Seixas)

Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado, é...
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais.


terça-feira, 7 de junho de 2011

Página em branco

A escassez de idéias para escrever é tão deprimente quanto a falta de gols do melhor artilheiro em jogos seguidos. E a cada jogo, a cada dia, ele quer o gol, ele precisa do gol. Mas pensando bem, não ter idéias para escrever é até mais deprimente, pois não depende de ninguém, não tem um goleiro apto para impedir que este gol aconteça, escrever só depende de mim.
Fazendo uma releitura de meus textos, descobri que não me conheço, desta forma, não consigo direcionar o pensamento para buscar inspiração, não sei ao certo o que me inspira a escrever, nem se preciso estar inspirado para escrever.
Li tempos atrás num site de publicação de artigos, um texto que falava sobre o fato de escrever e, em resumo, dizia que os textos escritos já existiam antes de ser escritos, bastando ficarmos atentos para conseguirmos captá-los e torná-los legíveis. Com base nesta teoria, fico intrigado sobre a autoria dos textos, mas enfim, acaba coincidindo com minha idéia de que as palavras estão aí, aguardando alguém para ordená-las de forma a transmitir algo, que será sentido e entendido de diversas formas, de acordo com as características do leitor e demais situações que permeiam sua vida.
Por diversas vezes, após iniciar um texto com tremenda facilidade, percebo que este texto já foi escrito, e não raramente por mim. Questiono minha insanidade, ou no mínimo minha memória falha nestes casos e volto a estar em frente a uma página em branco, me olhando, me chamando, esperando ser preenchida para tomar forma, servindo para servir.
E foi justamente nesta hora, que fiz este texto, sem rimas, sem idéia.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Invisível proteção

Peço encarecidamente que antes de iniciar a leitura do texto abaixo, você deixe de lado todo preconceito relacionado à religião, doutrina, crença ou crendice.

O ano era 1989, éramos uma família brasileira, na fé e na persistência.
As coisas nunca foram fáceis para nós, o dinheiro suado não era devidamente aproveitado, além dos problemas encontrados em muitas famílias relacionados ao difícil e turbulento convívio dos pais, associados e energizados pela ação do álcool e do ciúmes.
A vida era levada do jeito que dava, e por convenção éramos católicos. Daqueles que freqüentavam a igreja em casamentos e missas de sétimo dia.
Meus pais tiveram três filhos, sendo eu o primogênito e mais duas meninas, que na época tínhamos 10, 7 e 2 anos respectivamente.
Morávamos em uma casa térrea, no entanto, as janelas da cozinha e da sala davam para o terreno vizinho, situado cerca de 10 metros abaixo de nosso nível e não havia nem grades, nem redes de proteção para estas janelas.
Nesta mesma época, lembro que freqüentávamos a casa de minha madrinha (irmã de meu pai), onde sua sogra fazia reuniões de orientação utilizando sua humilde mediunidade em favor do próximo, através de uma baiana.
(Abrindo um parênteses, hoje escrevo com mais conhecimento no assunto, no entanto, na época tinha apenas 10 anos de idade e a mínima noção do que de fato se passava. Lembro apenas de brincar com meus primos, enquanto eles, os adultos, se reuniam na sala e conversavam com a mãe de meu tio, que falava de um jeito estranho, fumando um charuto e bebendo “água”)
Tenho vagas lembranças destas reuniões, onde às vezes, íamos cumprimentar esta baiana que tratava as crianças de uma maneira alegre e descontraída.
Lembro também de seu nome, aliás, jamais esqueci a inesquecível “Maria Baiana”.
Acredito que meus pais freqüentavam estas reuniões em busca de ajuda, orientação, paz no relacionamento, bem, creio que sentiam-se protegidos e amparados por esta baiana.
Antes de continuar e terminar esta história, entendo que vale ressaltar que esta freqüência não era assim tão assídua e realmente não posso julgar se meus pais seguiram as orientações dadas pela baiana, mesmo porque, eles pararam de freqüentar estas reuniões e não sei ao certo a razão.
Voltando à história, certo sábado, em que meu pai provavelmente estava trabalhando, minha mãe precisou comparecer pela manhã na loja de roupas que trabalhava nos dias de semana. Acho que foi ajudar, pelo menos meio-período, e analisou que poderia deixar as crianças sozinhas em casa dormindo. Como eu tinha 10 anos, talvez conseguisse dar conta de minhas irmãs até que minha mãe voltasse.
E assim ela foi, deixando suas crianças em casa sozinhas dormindo.
E foi neste sábado, que acordei assustado (sabe quando damos aqueles pulos como se seu corpo estivesse caindo ou voando) e fui diretamente para a cozinha (sem ir ao banheiro antes, coisa que provavelmente a maioria de nós faz ao levantar), quando vi minha irmã menor, de 2 anos, pendurada na janela com meio corpo para fora e meio corpo para dentro, e seus pequenos pés já não estavam mais apoiados na cadeira que tinha empurrado para perto da janela, para conseguir alcançá-la.
Bem, nesta hora, eu sem emitir qualquer tipo de som para não assustá-la, fui andando para perto dela até que consegui abraçá-la, tirá-la da janela e colocá-la no chão.
Minha outra irmã continuava dormindo, quando decidi não contar o ocorrido a ninguém. Sei lá que tipo de análise fiz no momento, mas como não tinha acontecido nada, não precisava ficar falando. Só eu sabia e saberia.
Semanas depois, meus pais decidiram ir à casa de minha madrinha para participar de mais uma reunião com a baiana. As coisas em casa não estavam fáceis. Nunca foram.
Tudo igual, a mesma separação de sempre, as crianças iam brincar enquanto os adultos se reuniam para conversar com a baiana.
No entanto, esta reunião foi diferente, e marcante, pelo menos para mim.
Tudo acontecia na naturalidade de sempre, quando no meio da reunião a baiana pede para meu tio me chamar.
Eu deixo meus primos e minhas irmãs e vou até a sala, acompanhando meu tio com um certo medo da baiana. Afinal, nas outras reuniões ela apenas nos tratava com alegria mas sem muito contato, sem muita conversa.
Quando chego à sala, todos também não estão entendendo o que está se passando direito e nem porque eu fui chamado.
Eis que a Maria Baiana pega em minhas mãos, olha bem dentro dos meus olhos e diz:
- “Menino. Fui eu que te acordei!”

Após ficar perplexo, pois não havia contado o incidente a ninguém, tive que contar todo o ocorrido a meus pais, que também ficaram boquiabertos.

Com esta pequena história, não tenho interesse algum em fazer apologia a nenhum tipo de religião ou crença. Quero somente partilhar este momento, que fez com que eu não tivesse dúvidas sobre uma proteção, que mesmo sem ver, estava presente.